— Diga o que está sentindo agora.
— Meu único problema, doutor, é o medo.
— Nós só temos um problema real: o medo.
— Eu tenho medo de amar.
— As outras formas de medo são mecanismos de defesa e sobrevivência animal. A pessoa humana tem um medo especial e original: o de amar.
— E amar é a única coisa que realmente me interessa.
— É o amor e não a vida o oposto da morte. Precisamos distinguir entre estar vivo e morrer.
— Claro, não estou viva porque tenho medo de amar.
— Você não está morta porque o amor é a única coisa que realmente lhe interessa.
— Precisamente por isso decidi fazer psicoterapia.
— Precisamente por isso, estou certo hoje, decidi ser psicoterapeuta.
— Então os psicoterapeutas entendem de amor?
— Não. Os psicoterapeutas entendem de amor tanto quanto qualquer pessoa. Eu tenho tanto medo de amar como você.
— Como pretende me ajudar?
— Tenho muito mais anos de medo do amor que você. Acho que aprendi alguma coisa enfrentando esse medo.
— E já amou?
— Muito.
— Como?
— Como estou tentando e temendo amar você agora.
— Eu não vim aqui para amá-lo e ser amada pelo senhor.
— Então perde o seu tempo aqui. Quando você chegou, a primeira coisa que fiz foi perguntar-me se queria e podia amar você. Logo senti que sim. Então comecei a sentir medo. E isso provava que já a estava amando.
— Estou começando a sentir medo do senhor.
— Como é esse medo?
— É difícil de explicar.
— Não explique. Descreva apenas o que está sentindo. Esqueça a palavra medo e descreva as sensações e emoções que sente agora.
DO LIVRO ame e dê vexame, do Roberto freire
Fonte:FREIRE, Roberto. Ame e dê vexame. [Rio de Janeiro]: Guanabara, c1990.
Um comentário:
Lizandraaaa que texto show!
Quer dizer que quando surge o medo já estamos amando?.. medoooo! hehehehe
Quem é que entende de amor se nem os psicoterapeutas entendem?
heheh
Bjos
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