Sobre o terapeuta, numa abordagem dialógica, a sua individualidade está a serviço do dialógico, a ideia essencial seria de que a singularidade genuína nasce do relacionamento verdadeiro com os outros, a procura da terapia está relacionado com seu diálogo perturbado com os outros assim como a dificuldade de fazer contato consigo mesmo, por isso o terapeuta precisa estar com todos os seus sentidos, toda experiência, todo o treinamento em tomar consciência do que está faltando nessa situação potencialmente dialógica, além de complementar a polaridade oposta do paciente, aquela em que o cliente lida consigo mesmo e com o outro, ou seja, dar ao cliente o que ele não tem.
Dessa forma estar a serviço
exige muita disciplina e um escutar obediente, essa postura exige que se
caminhe pela vereda estreita entre a responsabilidade por e para com outras
pessoas, entre a objetividade e a subjetividade, sendo que a escolha do caminho
para se trabalhar depende do encontro com esse cliente único nesse momento
único. O maior desafio é: Como estar presente no nada - mais – que – processo e
ainda assim não se perder no abismo; como utilizar a segurança da teoria e
ainda assim não usá-la como uma defesa contra o desconhecido; como responder a
singularidade, e, ainda assim, valorizar nossa humanidade comum? O passo mais
essencial é estabelecer a possibilidade de um contato dialógico genuíno, é
voltar-se para o outro e afastar – se de estar preocupado consigo, e ver o
outro na sua alteridade única, o único objetivo é estar plenamente presente,
mas as pessoas que não estão acostumadas a ter outro ser plenamente presente
para si pode experienciar isso como uma situação esmagadora, logo, o terapeuta
precisa de sensibilidade com esta presença, assim como, com a resposta e o
responder a ela, percebendo assim como ela vai impactar determinado indivíduo,
sem impô-la.
O
terapeuta tem como finalidade de estar tão completamente aberto quanto possível
a singularidade da outra pessoa, para isso é necessário adotar a postura
dialógica de suspender seus pressupostos. Esta é uma forma Zen de estar,
ficando aberto ao único, ao inusitado – para ser surpreendido. Teoria,
treinamento e experiência são essenciais, mas no momento do encontro são o pano
de fundo. A total suspensão dos pressupostos é algo impossível de ser feito,
entretanto, a tentativa é mais uma postura de estar consciente dos próprios
preconceitos e que eles são inconscientes, evitando que haja uma precipitação
das suas conclusões, sugestões e interpretações.
O
cliente quer ser ouvido no dito e no não dito, querem ser encontrado em níveis
mais profundos, isso não acontecerá se a perspectiva do terapeuta ocupar muito
espaço psicológico no “entre”, ou o que é pior ela for imposta em detrimento da
experiência do outro, procurar suspender as pressuposições aumenta a
possibilidade de estar mais disponível para os clientes num nível mais
profundo.
Como
posso começar a fazer contato com essa pessoa? É ficar - com a experiência
fenomenológica do cliente a cada momento. É estar tão próximo a experiência da
pessoa, que há uma ressonância visível a tal experiência, com a necessidade de se
mover em ritmo semelhante ao do cliente, é estar presente de uma forma que
valorize verdadeiramente aquela experiência, essas atitudes permitem ao cliente
superar resistências, tonar-se denso e expandir seus limites de crescimento, é uma
reverência para a experiência única dessa pessoa, é mostrar ao cliente que é
saudável ficar dentro de sua experiência, no lugar de deixar prender por uma
imagem e pelos deverias.
Outra
questão é a inclusão, o terapeuta precisa dessa prática, tentando experienciar
o que o cliente está experienciando do seu lado do diálogo. Há a sensação de
ausência do self, ainda assim ele deve se mostrar centrado, a inclusão é ser
capaz de pular de um lado para outro na relação e ainda assim permanecer
centrado na própria existência precisamos parar de temer a perda do self, a fim
de experienciar o outro lado, sendo que da mesma forma do momento Eu-Tu, não se
pode visar, tê-lo como objetivo, pode-se somente colocar-se tão disponível
quanto possível, para Buber a inclusão é diferente da empatia , pois esta é
somente um sentimento enquanto a inclusão é o voltar-se existencial para o
outro e uma tentativa de experienciar o outro lado.
Outro
aspecto da abordagem é a confirmação, é ser reconhecido, ser visto pela nossa
família imediata, pelo outro num sentido dialógico.
Nos
primeiros anos de nossa vida, a família deixa marcas no nosso desenvolvimento,
se recebermos experiências posteriores, elas podem se apoiar e serem
confirmadas mais tarde por essa experiência inicial, quando isso não acontece,
ou não se consegue essa confirmação em fases posteriores, há uma abertura e uma
necessidade desesperada para que a confirmação ocorra, esses acontecimentos
criam falsos eus, já que, se a pessoa não recebe confirmação pelo que é, tenta
provocar o aparecimento do melhor substituto possível, da maneira que achamos
que a outra pessoa deseja, entretanto o individuo fica se sentindo vazio e
falso para com seu verdadeiro self e acaba se estabelecendo um circulo vicioso
em que a pessoa precisa buscar desesperadamente a confirmação, mas continua a
conciliar para receber qualquer reconhecimento, desse modo o terapeuta precisa
trabalhar com os bloqueios que ajudam a proteger o ser dessa pessoa, já que são
os mesmos que o impedem de receber a confirmação. Esta confirmação significa um
esforço ativo de voltar-se para a outra pessoa e afirmar sua existência
separada, sua alteridade, sua singularidade, e seu vinculo comum comigo e com
os outros, é aceitar a pessoa, seu comportamento, quem ela é nesse momento, por
sermos criaturas do entre precisamos da confirmação do outro, poém só nos
validamos apenas até certo ponto.
O
terapeuta para executar estas atitudes precisa ter um senso de confirmação, de
auto – aceitação independente das reviravoltas da terapia, mesmo esses sensos
não senso absolutos, pois terapeuta também é humano e tem de lidar com seus
vazios existenciais.
Quando
há um certo impasse nas sessões de terapia, é possível utilizar os experimentos,
desde que não seja algo imposto e que haja uma relação de confiança, esses
experimentos tem de surgir do entre, temos como exemplo a cadeira vazia, que
seria uma auto diálogo em que se tenta ouvir os dois lados de pensamentos ou
sentimentos polares dentro da pessoa que está em conflito.
A
abordagem dialógica se configura num sentir, numa postura e numa crença de que
a saúde está numa relação equilibrada com os outros e consigo mesmo, observando
e respeitando as alteridades, singularidades, o diálogo, inclusões,
confirmações e o ritmo da graça e da coisificação, ou seja, da dança entre o
Eu-Tu e Eu- Isso em todas as relações.
Referência:
HYCNER, R.; A base Dialógica in HYCNER, R.; JACOBS, L. Relação e Cura em Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.
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