Por Pascale Senk – Le Figaro
Naquele dia, Sílvia, 50 anos de
idade, tinha acabado de ouvir uma ameaça de morte proferida por seu próprio
filho. “Senti-me uma criança envergonhada, diminuída e ameaçada diante
dele”, ela diz. Mas desta vez, em vez de responder violentamente ao rapaz de
1,80m à sua frente, ou de «remoer» o que sentia, ela saiu da sala e foi se
refugiar em seu quarto. Em segurança, sentada em um sofá confortável, ela
fechou os olhos e tomou consciência de suas sensações físicas ("Meu
coração batia a toda a velocidade, com um nó na garganta, os pés
congelados", lembra ela). E, sem controlar, sem julgar e sequer comentar
essas sensações, ela simplesmente as deixou evoluir... até sumirem. Um processo
que não ultrapassou 3 minutos. "Voltei então à cozinha para continuar
a conversa com Serge." Fim do episódio.
Esta forma fundamental de "deixar
passar" as emoções, de deixá-las diluir, é um dos segredos do renascimento
sensorial. Os que a praticam consideram esta técnica uma verdadeira
"auto-limpeza emocional", o resultado de uma habilidade natural,
acessível a todos nós. “Trata-se de uma técnica psicológica que, regularmente
praticada, acaba por nos livrar de emoções desagradáveis e negativas como o
medo, a raiva, a vergonha, etc”, explica Márcia Bénitah, psicoterapeuta
parisiense, instrutora do método.
Até o momento, cerca de
600 profissionais - psiquiatras e terapeutas de várias tendências –
se formaram nesse método na França, Bélgica e Estados-Unidos. “Isso representa
entre 5 mil e 10 mil sessões de renascimento sensorial realizadas
todos os dias apenas na França”, observa Márcia Bénitah. Treinamentos coletivos
e gratuitos têm sido realizados atualmente em todo o país . Eles prolongam
o trabalho de Luc Nicon, um pedagogo e pesquisador francês,que já era bem
conhecido por ter desenvolvido uma técnica de identificação dos medos
inconscientes (TIPI). Em seu último livro, Nicon dá maior ênfase ao papel
essencial da sensorialidade no controle das emoções.
Deixar passar as emoções negativas
Tal técnica requer um aprendizado, um
treinamento por parte dos terapeutas e sobretudo por parte dos pacientes.
Embora extremamente simples, ela costuma parecer difícil para muitos. A verdade
é que nossos condicionamentos culturais ocidentais tornam bastante complicado o
aprendizado de “deixar passar as emoções negativas”. Normalmente, não sabemos o
que fazer com elas. Cada um de nós tem suas estratégias para combater os
sentimentos desagradáveis que surgem a partir de emoções negativas. Alguns,
quando estão sobrecarregados de raiva, cometem atos violentos e têm de
enfrentar depois as consequências negativas desses atos. Outros, engolem a
raiva, não se livram dela, e, como resultado, se deixam correr por dentro.Alguns
saem para caminhar, outros respiram profundamente quatro ou cinco vezes, outros
tentam relaxar. “Não fazer nada, simplesmente deixar a tempestade passar parece
extremamente difícil e preocupante. No entanto, esta é a estrada real para a
dissolução das emoções negativas”, diz Marcia Bénitah.
Convencida de que essa técnica funciona,
a psiquiatra Christine Barois confirma: “As sensações corporais que acontecem
quando estamos passando por uma emoção nunca são perigosas, assim como as
próprias emoções que são muitas vezes úteis. No entanto, o que causa mal estar
é a sua intensidade.” Uma intensidade que cresce, precisamente quando tentamos
evitá-las, tal como mostrou o professor David Barlow da Universidade do
Mississippi. “A depressão é muitas vezes um problema de emoções
frustradas”, acrescenta a psiquiatra. A solução? Conseguir permanecer neste
estado de “não-ação" do qual falam muitas tradições espirituais,
especialmente as asiáticas como o budismo, o taoísmo e o zen. Tornar-se um
observador dos grandes fluxos de energia que passam pelo corpo, sem se opor a
eles. O que Luc Nicon descobriu e formalizou na fórmula do “renascimento
sensorial” está hoje no cerne das terapias mais inovadoras do momento",
avalia a Dra. Christine Barois. Terapias comportamentais e cognitivas,
meditação da atenção plena, EMDR (EMDR: Eye Movement
Desensitization and Reprocessing), terapia da aceitação, etc.
Esses métodos também colocam muita
ênfase no conceito de formação e fortalecimento da atenção. Quanto mais os
praticarmos, mais fácil se tornará sua prática, e mais gratificantes os
resultados. Todos eles também nos sugerem a não ficarmos “presos ao que nos
dizem nossos pensamentos quando a emoção nos atravessa. Por exemplo, quando
generalizamos – “é sempre a mesma coisa, a culpa de tudo recai sempre sobre
mim”- ou quando projetamos – “ele me odeia, e por isso me diz tudo isso” - ou
por distorção distorção cognitiva – “estou com raiva porque ele me disse
isso, não porque voltei cansado do meu dia de trabalho”.Graças ao renascimento
sensorial, Sílvia já sabe que para ficar em paz ela não precisa fazer muito:
basta encontrar um lugar para se isolar e mergulhar dentro de si mesma… com
toda segurança.
(1)
Informações: www.sensorelive.info e www.tipi.fr
(2)
Luc Nicon, «Revivre sensoriellement» (Renascimento sensorial), Editora Émotion
Forte
ps: Pra quem chegou até aqui, esse é um nome bonito pra algo típico da psicologia, é mais marketing do que uma descoberta nova...precisamos aprender rsrs)
Fonte: http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/221882/Renascimento-sensorial-O-novo-santo-graal-da-psicologia.htm
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