15 de janeiro de 2009

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ Psicólogo 2008

Julgue os seguintes itens, acerca de crianças que crescem em lares violentos e testemunham agressões verbais e físicas entre pais ou padrastos e madrastas.

57 A criança pode entender que a violência é um modo aceitável de resolver conflitos e desenvolver um padrão de comportamento agressivo em suas relações futuras, de acordo com o modelo. ( c)

58 Sob o ponto de vista comportamental, é possível que a criança desenvolva sentimentos ambíguos em relação ao perpetrador, envolvendo afeto positivo e raiva, que descrevem uma situação de conflito do tipo aproximação esquiva.(c)

59 Na assistência psicológica a criança filha de pais violentos, compete ao psicólogo oferecer respostas, explicando à criança os motivos pelos quais a violência aconteceu.

60 Uma criança de quatro anos que testemunha cenas violentas de agressão física ou verbal entre os pais, mesmo não sendo ela própria a vítima, pode desenvolver estresse pós traumático caracterizado por sintomas como insônia, comportamento desorganizado, choro excessivo e agitação.(c)



Maia et al (2007) afirma: De modo geral, mesmo não sendo vítima direta da violência, a criança pode apresentar problemas em decorrência da exposição à violência conjugal.

Segundo Sinclair (1985), estudos realizados indicaram que a observação da violência doméstica afeta e interfere no desenvolvimento físico e mental das crianças.
Cardoso (2001) salienta que a criança que observa a violência doméstica no lar vivenciará a ambivalência das emoções e reações entre amor e ódio, além de confusões, conflitos e outras vivências negativas. Outros efeitos nocivos da exposição da criança à violência conjugal indicados na literatura são: a agressão, uso de drogas e/ou álcool, distúrbio de atenção, baixo rendimento escolar (Brancalhone & Williams, 2003), ansiedade, depressão, Transtorno de Estresse Pós-Traumático e os problemas somáticos, entre outros (Barnett, 1997; Santos, 2001). Brancalhone, Fogo e Williams (2004) salientam que crianças que assistem à agressão do pai contra a mãe, no geral, assistem rotineiramente essa violência.

Para Sinclair (1985), uma criança que convive com a violência ou ameaça do pai contra a mãe é uma criança que precisa de proteção, pois tem risco de ser ela própria física e sexualmente abusada. Para Holden et al. (1998), a mulher agredida pode descontar sua raiva e frustração na criança, a criança pode machucar-se acidentalmente tentando parar a violência ou proteger sua mãe e, finalmente, a criança que testemunha a agressão contra a própria mãe poderá tornar-se um marido agressor ou uma mulher agredida.

Os efeitos da observação da violência podem ser entendidos com base na teoria da Aprendizagem Social. Tal teoria sustenta que padrões aprendidos por crianças em um lar violento agem como modelos de como se comportar em interações sociais (Bandura, 1976). Além disso, crianças expostas a ambientes estressantes podem apresentar quadros de dissociação a ponto de gerar rupturas bruscas e patológicas com a realidade (Caminha, 1999). Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (American Psychiatric Association, 2000), a característica essencial dos transtornos dissociativos é uma perturbação nas funções habitualmente integradas de consciência, memória, identidade ou percepção de ambiente.

A violência comparece ao consultório do psiquiatra da infância, público ou privado e se apresenta sob diversas "roupagens", em tipos clínicos. A revisão da literatura encontrou associação entre trauma e transtornos psiquiátricos, tais como demonstram os trabalhos sobre os seguintes transtornos: psicoses e esquizofrenia25, estresse pós-traumático (TEPT), déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH), conduta, ansiedade, aprendizagem e do humor.

Os pediatras, muitas vezes, são os primeiros a receberem estas crianças com sintomas psiquiátricos, como somatizações, diminuição do apetite, insônia, baixo desempenho escolar, agitação, inquietação ou mesmo tristeza. Estes sintomas podem ser fruto da violência cotidiana ou proveniente de um evento em especial. O pediatra deve estar alerta para encaminhar ao especialista, quando observar alguma relação entre sintoma psíquico e violência, para se evitar a cronificação e evolução para uma doença psiquiátrica.

Ainda, da culpa e raiva frente ao ocorrido ou do sentimento de impotência e inferioridade, pois, habitualmente, ela é atropelada pelo discurso materno, igualmente abalado por sua tragédia pessoal. Os profissionais devem estar advertidos quanto à divergência entre os relatos dos pais e o da escola, quando conferidos com o da criança e precisam conhecer as adversidades da comunidade a qual prestam serviços, a fim de viabilizar a re/inserção da criança traumatizada a seu meio, em oposição à segregação e à exclusão social.
(ABRAMOVITCH, CHENIAUX, MOREIRA, 2007).



Referências:


ABRAMOVITCH, S., CHENIAUX, E., MOREIRA, M. L. O impacto da violência na saúde mental das crianças. (2007) Disponível em <
http://www.soperj.org.br/revista/detalhes.asp?id=753> acesso em 15 e janeiro de 2009.
MAIA, J. M. D., WILLIAMS, L. C. A. fatores de risco e fatores de proteção ao desenvolvimento infantil: uma revisão da área (2007) Disponível em http://www.sbponline.org.br/revista2/vol13n2/v13n2a03t.htm Acesso em 15 de janeiro de 2009.

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