“O que temos aqui não são mais neurônios catexizados, mas sentidos a serem interpretados. Esse é o ponto em que a psicanálise se articula com a linguagem e rompe definitivamente com o referencial neurológico do projeto.” (pág.63).
O sonho é uma forma disfarçada de realização de desejo, incide sobre ele uma censura cujo efeito é uma deformação onírica, que objetiva proteger o sujeito do caráter ameaçador dos seus desejos “o sonho recordado é, pois, um substituto deformado de outra coisa, de um conteúdo inconsciente, ao qual se pretende chegar através da interpretação” (pág. 64).
O sonho se inscreve em dois registros:
1. O conteúdo manifesto do sonho: o sonho lembrado e contado
2. Pensamentos oníricos latentes: sonho oculto, inconsciente
A interpretação é o procedimento que nos permite percorrer o caminho que nos leva do conteúdo manifesto aos pensamentos latentes, o que se interpreta é o que é relatado dos sonhos, os enunciados devem ser substituídos por outros enunciados, mais primitivos e ocultos que seria a expressão do desejo do paciente.”Devemos tomar como objeto de nossa atenção não é o sonho como um todo, mas parcelas isoladas do seu conteúdo”( Freud, apud GARCIA-ROZA, pág.65).
São as distorções a que os pensamentos oníricos latentes são submetidos que vão nos servir de meio para chegarmos a sintaxe do inconsciente.
Elaboração onírica e interpretação
A psicanálise vai procurar a verdade do desejo, é fazer aparecer o desejo que o discurso oculta, a maneira desse desejo aparecer é de uma forma distorcida, cujo exemplo é o sonho manifesto, esse trabalho de distorção dá-se o nome de ‘elaboração onírica’ ou ‘trabalho do sonho’.
A censura se mostra através das partes omitidas do sonho ou aquelas que aparecem de forma confusa. Elaboração onírica seria “o trabalho que transforma os pensamentos latentes em conteúdo manifesto, impondo-lhes uma distorção que os torna inacessíveis ao sonhador” (pág. 66). A interpretação seria o trabalho “que procura chegar ao conteúdo latente partindo do manifesto que visa decifrar a elaboração onírica” (pág. 66).
Freud aponta quatro mecanismos fundamentais do trabalho do sonho:
1. Condensação
O conteúdo manifesto do sonho é sempre menor do que o conteúdo latente. Ela pode operar de três maneiras:
· Omitindo determinados elementos do conteúdo latente
· Permitindo que apenas um fragmento de alguns complexos do sonho latente apareça no sonho manifesto.
· Combinando vários elementos do conteúdo latente que possuem algo em comum num único elemento do conteúdo manifesto.
2. Deslocamento
O descolamento opera de duas maneiras:
· Pela substituição de um elemento latente por um outro mais remoto que funcione em relação ao primeiro como uma simples alusão.
· A segunda maneira é quando o acento é mudado de um elemento importante para outro sem importância.
3. Figuração ou consideração à figurabilidade
Consiste na seleção e transformação dos pensamentos dos pensamentos dos sonhos em imagens, essa transformação não afeta a totalidade dos pensamentos oníricos, pois também aparecem no sonho manifesto pensamentos.
4. Elaboração secundária
“Consiste numa modificação do sonho a fim de que ele apareça sob a forma de uma história coerente e compreensível” (pág. 68). A elaboração secundária consiste em fazer com que o sonho perca sua aparência de absurdidade aproximando-o do pensamento diurno.
REFERÊNCIAS:
in GARCIA-ROZA, A. Freud e o Inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, pags 61 a 69.
2 comentários:
show de bola! adorei
Brigadão!
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