28 de setembro de 2014

Prática Terapêutica da Gestalt Terapia



    A presente síntese tem como objetivo discutir as práticas terapêuticas na Gestalt Terapia mais especificamente na postura dialógica, enfatizando as características dessa postura em relação ao terapeuta e reciprocamente no cliente.

       O dialógico é a relação do “entre”, do invisível, impalpável “entre” nós, uma abordagem mais sentida do que na teoria, tem como características a alternância rítmica da relação Eu-Tu e Eu- Isso. A Gestalt – terapia de orientação dialógica tem como princípio básico o fato de que a abordagem, o processo e o objetivo da psicoterapia são dialógicos no enfoque global, o dialógico se encontra no diálogo neste “entre” que compartilham, o Todo (âmbito dialógico) é maior que a soma das partes(terapeuta e cliente). O componente indispensável para a prática terapêutica é a atitude dialógica do terapeuta, sendo que todo contato e awareness são compreendidos dentro do contexto do dialógico, porém todo diálogo é contato, mas nem todo contato é diálogo, este para ser dialógico tem de estar fundamentado no “entre”.

      A psicoterapia dialógica é um modo de ser, no seu âmago está à ideia de que a base última de nossa existência é relacional e dialógica por natureza. Ela reconhece que uma das tensões fundamentais da existência humana é a tensão entre nossa natureza relacional e nossa singularidade, esta abordagem reconhece a singularidade do individuo no contexto relacional, com esse singular emergindo em relação com os outros sendo que a chave do viver saudável seria o equilíbrio entre nosso senso de união e separação, outra questão é que no encontro existe a fala, mas o dialógico é uma forma de abordar os outros e não a fala em si mesmo entendendo que a fala é a manifestação auditiva de uma atitude dialógica e que mesmo o silêncio pode significar o diálogo genuíno.

      O “entre” abrange duas posturas polares, o Eu-Tu e Eu – Isso, a primeira é uma atitude de conexão natural e a segunda de separação natural sendo que ambas são essenciais, o viver saudável requer uma alternância rítmica e um equilíbrio entre a tensão criativa e a integração dessas polaridades. A experiência Eu-Tu é estar tão plenamente presente quanto possível com o outro apreciando a alteridade, a singularidade, a totalidade do outro enquanto isso acontece simultaneamente com a outra pessoa, é uma experiência de encontro.

     A experiência Eu-Isso é dirigida por um propósito, é uma coisificação do outro, o momento onde se focaliza tanto um objetivo que as outras pessoas ficam em segundo plano, tornam-se secundárias em determinadas situações, todos precisam disso para atingir uma meta, essa atitude faz parte do fluxo das relações humanas. Os hífens nos termos Eu-Tu e Eu-Isso significam que a orientação com que alguém se aproxima dos outros é sempre relacional e reciprocamente reflete-se de volta para a própria pessoa. Se me aproximo dos outros numa atitude Eu-Tu isso irá se refletir de volta em como me aproximo de mim, o mesmo acontecendo na relação Eu-Isso quando coisifico os outros também me coisifico.

     O encontro Eu-Tu é apenas um momento ou uma dimensão de uma orientação dialógica rítmica total que abrange a alternância dos momentos Eu-Tu e Eu-Isso, ela não pode ser congelada, nem pode ser o objetivo na relação, pois se não ironicamente se torna um encontro Eu- isso, não se pode visar o encontro Eu-Tu pode-se apenas preparar o terreno e estar presente deixando o momento da graça ocorrer.

     Outra questão a se observar na abordagem dialógica é a preocupação da pessoa como um todo, uma visão holística, mesmo que em estágios da terapia algum aspecto seja enfatizado, o terapeuta de orientação dialógica tenta manter a visão do contexto todo assim como na alternância rítmicas entre eles. Neste ínterim o terapeuta tem de estar atento para não reduzir o outro a sua motivação psicológica, mas se perguntar que contexto da existência dessa pessoa faz com que um motivo ou comportamento seja figura em determinado momento, cada comportamento precisa e pede desesperadamente para ser compreendido dentro do contexto mais amplo da existência dessa pessoa, nesta perspectiva a patologia é vista como um distúrbio da existência inteira da pessoa e como afirmação de que ela precisa ser cuidada para que sua existência se torne novamente completa. A pessoa inteira é ao mesmo tempo revelada e escondida. A patologia surge quando estas dimensões estão significativamente desequilibradas entre si.



CURSO DE PSICOTERAPIA

Referência:

HYCNER, R.; A base Dialógica in HYCNER, R.; JACOBS, L. Relação e Cura em Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.

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