30 de setembro de 2014

O Terapeuta numa abordagem dialógica



        Sobre o terapeuta, numa abordagem dialógica, a sua individualidade está a serviço do dialógico, a ideia essencial seria de que a singularidade genuína nasce do relacionamento verdadeiro com os outros, a procura da terapia está relacionado com seu diálogo perturbado com os outros assim como a dificuldade de fazer contato consigo mesmo, por isso o terapeuta precisa estar com todos os seus sentidos, toda experiência, todo o treinamento em tomar consciência do que está faltando nessa situação potencialmente dialógica, além de complementar a polaridade oposta do paciente, aquela em que o cliente lida consigo mesmo e com o outro, ou seja, dar ao cliente o que ele não tem.
 Dessa forma estar a serviço exige muita disciplina e um escutar obediente, essa postura exige que se caminhe pela vereda estreita entre a responsabilidade por e para com outras pessoas, entre a objetividade e a subjetividade, sendo que a escolha do caminho para se trabalhar depende do encontro com esse cliente único nesse momento único. O maior desafio é: Como estar presente no nada - mais – que – processo e ainda assim não se perder no abismo; como utilizar a segurança da teoria e ainda assim não usá-la como uma defesa contra o desconhecido; como responder a singularidade, e, ainda assim, valorizar nossa humanidade comum? O passo mais essencial é estabelecer a possibilidade de um contato dialógico genuíno, é voltar-se para o outro e afastar – se de estar preocupado consigo, e ver o outro na sua alteridade única, o único objetivo é estar plenamente presente, mas as pessoas que não estão acostumadas a ter outro ser plenamente presente para si pode experienciar isso como uma situação esmagadora, logo, o terapeuta precisa de sensibilidade com esta presença, assim como, com a resposta e o responder a ela, percebendo assim como ela vai impactar determinado indivíduo, sem impô-la.
O terapeuta tem como finalidade de estar tão completamente aberto quanto possível a singularidade da outra pessoa, para isso é necessário adotar a postura dialógica de suspender seus pressupostos. Esta é uma forma Zen de estar, ficando aberto ao único, ao inusitado – para ser surpreendido. Teoria, treinamento e experiência são essenciais, mas no momento do encontro são o pano de fundo. A total suspensão dos pressupostos é algo impossível de ser feito, entretanto, a tentativa é mais uma postura de estar consciente dos próprios preconceitos e que eles são inconscientes, evitando que haja uma precipitação das suas conclusões, sugestões e interpretações.
O cliente quer ser ouvido no dito e no não dito, querem ser encontrado em níveis mais profundos, isso não acontecerá se a perspectiva do terapeuta ocupar muito espaço psicológico no “entre”, ou o que é pior ela for imposta em detrimento da experiência do outro, procurar suspender as pressuposições aumenta a possibilidade de estar mais disponível para os clientes num nível mais profundo.
Como posso começar a fazer contato com essa pessoa? É ficar - com a experiência fenomenológica do cliente a cada momento. É estar tão próximo a experiência da pessoa, que há uma ressonância visível a tal experiência, com a necessidade de se mover em ritmo semelhante ao do cliente, é estar presente de uma forma que valorize verdadeiramente aquela experiência, essas atitudes permitem ao cliente superar resistências, tonar-se denso e expandir seus limites de crescimento, é uma reverência para a experiência única dessa pessoa, é mostrar ao cliente que é saudável ficar dentro de sua experiência, no lugar de deixar prender por uma imagem e pelos deverias.
Outra questão é a inclusão, o terapeuta precisa dessa prática, tentando experienciar o que o cliente está experienciando do seu lado do diálogo. Há a sensação de ausência do self, ainda assim ele deve se mostrar centrado, a inclusão é ser capaz de pular de um lado para outro na relação e ainda assim permanecer centrado na própria existência precisamos parar de temer a perda do self, a fim de experienciar o outro lado, sendo que da mesma forma do momento Eu-Tu, não se pode visar, tê-lo como objetivo, pode-se somente colocar-se tão disponível quanto possível, para Buber a inclusão é diferente da empatia , pois esta é somente um sentimento enquanto a inclusão é o voltar-se existencial para o outro e uma tentativa de experienciar o outro lado.
Outro aspecto da abordagem é a confirmação, é ser reconhecido, ser visto pela nossa família imediata, pelo outro num sentido dialógico.
Nos primeiros anos de nossa vida, a família deixa marcas no nosso desenvolvimento, se recebermos experiências posteriores, elas podem se apoiar e serem confirmadas mais tarde por essa experiência inicial, quando isso não acontece, ou não se consegue essa confirmação em fases posteriores, há uma abertura e uma necessidade desesperada para que a confirmação ocorra, esses acontecimentos criam falsos eus, já que, se a pessoa não recebe confirmação pelo que é, tenta provocar o aparecimento do melhor substituto possível, da maneira que achamos que a outra pessoa deseja, entretanto o individuo fica se sentindo vazio e falso para com seu verdadeiro self e acaba se estabelecendo um circulo vicioso em que a pessoa precisa buscar desesperadamente a confirmação, mas continua a conciliar para receber qualquer reconhecimento, desse modo o terapeuta precisa trabalhar com os bloqueios que ajudam a proteger o ser dessa pessoa, já que são os mesmos que o impedem de receber a confirmação. Esta confirmação significa um esforço ativo de voltar-se para a outra pessoa e afirmar sua existência separada, sua alteridade, sua singularidade, e seu vinculo comum comigo e com os outros, é aceitar a pessoa, seu comportamento, quem ela é nesse momento, por sermos criaturas do entre precisamos da confirmação do outro, poém só nos validamos apenas até certo ponto.
O terapeuta para executar estas atitudes precisa ter um senso de confirmação, de auto – aceitação independente das reviravoltas da terapia, mesmo esses sensos não senso absolutos, pois terapeuta também é humano e tem de lidar com seus vazios existenciais.
Quando há um certo impasse nas sessões de terapia, é possível utilizar os experimentos, desde que não seja algo imposto e que haja uma relação de confiança, esses experimentos tem de surgir do entre, temos como exemplo a cadeira vazia, que seria uma auto diálogo em que se tenta ouvir os dois lados de pensamentos ou sentimentos polares dentro da pessoa que está em conflito.

A abordagem dialógica se configura num sentir, numa postura e numa crença de que a saúde está numa relação equilibrada com os outros e consigo mesmo, observando e respeitando as alteridades, singularidades, o diálogo, inclusões, confirmações e o ritmo da graça e da coisificação, ou seja, da dança entre o Eu-Tu e Eu- Isso em todas as relações.






Referência:

HYCNER, R.; A base Dialógica in HYCNER, R.; JACOBS, L. Relação e Cura em Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.


28 de setembro de 2014

Prática Terapêutica da Gestalt Terapia



    A presente síntese tem como objetivo discutir as práticas terapêuticas na Gestalt Terapia mais especificamente na postura dialógica, enfatizando as características dessa postura em relação ao terapeuta e reciprocamente no cliente.

       O dialógico é a relação do “entre”, do invisível, impalpável “entre” nós, uma abordagem mais sentida do que na teoria, tem como características a alternância rítmica da relação Eu-Tu e Eu- Isso. A Gestalt – terapia de orientação dialógica tem como princípio básico o fato de que a abordagem, o processo e o objetivo da psicoterapia são dialógicos no enfoque global, o dialógico se encontra no diálogo neste “entre” que compartilham, o Todo (âmbito dialógico) é maior que a soma das partes(terapeuta e cliente). O componente indispensável para a prática terapêutica é a atitude dialógica do terapeuta, sendo que todo contato e awareness são compreendidos dentro do contexto do dialógico, porém todo diálogo é contato, mas nem todo contato é diálogo, este para ser dialógico tem de estar fundamentado no “entre”.

      A psicoterapia dialógica é um modo de ser, no seu âmago está à ideia de que a base última de nossa existência é relacional e dialógica por natureza. Ela reconhece que uma das tensões fundamentais da existência humana é a tensão entre nossa natureza relacional e nossa singularidade, esta abordagem reconhece a singularidade do individuo no contexto relacional, com esse singular emergindo em relação com os outros sendo que a chave do viver saudável seria o equilíbrio entre nosso senso de união e separação, outra questão é que no encontro existe a fala, mas o dialógico é uma forma de abordar os outros e não a fala em si mesmo entendendo que a fala é a manifestação auditiva de uma atitude dialógica e que mesmo o silêncio pode significar o diálogo genuíno.

      O “entre” abrange duas posturas polares, o Eu-Tu e Eu – Isso, a primeira é uma atitude de conexão natural e a segunda de separação natural sendo que ambas são essenciais, o viver saudável requer uma alternância rítmica e um equilíbrio entre a tensão criativa e a integração dessas polaridades. A experiência Eu-Tu é estar tão plenamente presente quanto possível com o outro apreciando a alteridade, a singularidade, a totalidade do outro enquanto isso acontece simultaneamente com a outra pessoa, é uma experiência de encontro.

     A experiência Eu-Isso é dirigida por um propósito, é uma coisificação do outro, o momento onde se focaliza tanto um objetivo que as outras pessoas ficam em segundo plano, tornam-se secundárias em determinadas situações, todos precisam disso para atingir uma meta, essa atitude faz parte do fluxo das relações humanas. Os hífens nos termos Eu-Tu e Eu-Isso significam que a orientação com que alguém se aproxima dos outros é sempre relacional e reciprocamente reflete-se de volta para a própria pessoa. Se me aproximo dos outros numa atitude Eu-Tu isso irá se refletir de volta em como me aproximo de mim, o mesmo acontecendo na relação Eu-Isso quando coisifico os outros também me coisifico.

     O encontro Eu-Tu é apenas um momento ou uma dimensão de uma orientação dialógica rítmica total que abrange a alternância dos momentos Eu-Tu e Eu-Isso, ela não pode ser congelada, nem pode ser o objetivo na relação, pois se não ironicamente se torna um encontro Eu- isso, não se pode visar o encontro Eu-Tu pode-se apenas preparar o terreno e estar presente deixando o momento da graça ocorrer.

     Outra questão a se observar na abordagem dialógica é a preocupação da pessoa como um todo, uma visão holística, mesmo que em estágios da terapia algum aspecto seja enfatizado, o terapeuta de orientação dialógica tenta manter a visão do contexto todo assim como na alternância rítmicas entre eles. Neste ínterim o terapeuta tem de estar atento para não reduzir o outro a sua motivação psicológica, mas se perguntar que contexto da existência dessa pessoa faz com que um motivo ou comportamento seja figura em determinado momento, cada comportamento precisa e pede desesperadamente para ser compreendido dentro do contexto mais amplo da existência dessa pessoa, nesta perspectiva a patologia é vista como um distúrbio da existência inteira da pessoa e como afirmação de que ela precisa ser cuidada para que sua existência se torne novamente completa. A pessoa inteira é ao mesmo tempo revelada e escondida. A patologia surge quando estas dimensões estão significativamente desequilibradas entre si.



CURSO DE PSICOTERAPIA

Referência:

HYCNER, R.; A base Dialógica in HYCNER, R.; JACOBS, L. Relação e Cura em Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.

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